sexta-feira, 1 de julho de 2016

O albatroz azul


Antes de começar a falar deste excelente livro, quero deixar bem claro que se você não curte o estilo literário brasileiro, muito provavelmente não vai gostar do albatroz azul. O livro, ao contrário das séries mais famosas atualmente, não tem um personagem heroico nem um momento de clímax onde a garotinha indefesa é resgatada ou a bruxa má é morta.
                O livro é uma narrativa simples e bem prazerosa, fácil de ler. Não é a toa que João Ubaldo tornou-se o mestre que é. A história é narrada contando a vida de Tertuliano, o personagem que move toda a história. Como ele mesmo se descreve,  é um velho cansado, já no fim da vida, que apenas espera a morte chegar.
                No entanto, esperava que sua vida não lhe preparasse mais nada. Apenas esperaria a morte, eis que então sua filha Belinha, já mãe de muitos filhos, iria ter mais um. Belinha até então só havia tido filhas, e essa gravidez, segundo a maioria do povo, não reservaria surpresas. Tertuliano, alertado pela voz que não sabia de onde vinha, sabia que dessa vez não seria mais uma mulher e sim um neto.
                A partir desse momento, o livro ganha a narrativa sedosa de Ubaldo, que por entre as linhas conta a história do dia-a-dia das pessoas. O modo como Tertuliano, mesmo contrariando o que todos dizem, prepara com capricho o nome e as roupas do menino, que nascerá.
                Há nesse meio a história da família de Tertuliano e de  suas escolhas, que mudaram totalmente o rumo de sua vida. Como ele abdicou de tornar-se rico em Portugal e viver no Brasil.
                Confesso que esperava um pouco mais do final, como o desenrolar da história do menino. Mas mesmo assim, o final foi teve um quê de enigmático. Pedras falantes e marujos holandeses e o próprio Tertuliano deixam no ar a sensação de que a vida não termina com a morte.


Links - Skoob 
           Livraria Cultura

sábado, 26 de dezembro de 2015

1808, de Laurentino Gomes


Título : 1808
Autor : Laurentino Gomes
Ano: 2008
Sinopse: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil
Este é o primeiro livro do autor paranaense Laurentino Gomes. O autor, que não é um historiador de formação, mostra seu talento na narrativa do seu livro-reportagem com observações bastante cabíveis sobre D. João VI e das peculiaridades da corte que veio fugida do Brasil.

D. João
O livro tem como seu principal personagem D. João VI, príncipe regente que viria a ser rei de Portugal com a morte de sua mãe, D. Maria I. Laurentino descreve o rei como sendo um sujeito tomado pelo medo de tomar decisões, deixando-as sempre para a última hora. Sempre que podia adiava decisões importantes, adiava, e quando as tomava, tinha sempre por trás a palavra de seus conselheiros, em especial D. Rodrigo de Sousa Coutinho ou o Conde de Linhares.
Fugidos
 A vinda da família real ao Brasil não aconteceu dos mais belos modos e nem por vontade deles. Àquele tempo, Napoleão Bonaparte provocava o terror na Europa destronando os reis, que se diziam detentores do direito divino de reinar e colocando no lugar dos destronados seus familiares. Para um panorama completo, há que se falar também e principalmente nas relações comerciais de Portugal com o todo poderoso - àquela época- Império Britânico. Portugal era um dos reinos de segunda classe, mas que ficou encurralado entre o Império Britânico, com quem tinha relações comerciais muito fortes e a França de Napoleão, que era inimiga ferrenha dos britânicos. Então nessa sinuca de bico, D. João teve grandes pesadelos. Se aderisse ao bloqueio continental de Napoleão teria como inimigo os britânicos, que dominavam os mares. Seria um tremendo tiro no pé, já que Portugal dependia quase que exclusivamente das riquezas que chegavam do Brasil. Por outro lado, se não aderisse ao bloqueio continental certamente Napoleão invadiria Portugal e foi o que, no fim das contas aconteceu.
Numa jogada muito astuciosa, D. João declara guerra as britânicos e negocia com Napoleão, o que eu dá a Portugal um certo tempo para resolver seu dilema. A declaração de guerra à Inglaterra não passava de palavras vazias, visto que por debaixo dos panos Portugal negociava com os britânicos a fuga da família real ao Brasil com uma escolta de navios britânicos.
Os historiadores são certos ao falar que se D. João quisesse resistir à vinda das tropas francesas teriam certamente resistido. O exército Português não era o melhor, mas as condições dos soldados franceses eram bem piores. Chegaram à Portugal maltrapilhos, famintos. Muitos deles morreram de fome e de doença no caminho até Portugal. Por isso, mesmo com um exército fraco, Portugal teria resistido aos franceses.
A Partida
Autor desconhecido . A família real no cais do Porto.
A partida da família real foi em 27 de novembro de 1807, a tarde, mas sem ventos para impulsionar os barcos, a partida de fato só aconteceu dia 29. Pela pressa que se deu tal empreitada, fora grande a o alvoroço no cais do porto. Carruagem se amontoavam na lama, caixas e caixas eram deixadas para trás contendo verdadeiros tesouros. Caso disso foram os 60.000 volumes da Real Biblioteca de Portugal que ficaram em caixotes no cais e toda a prataria das igrejas.
Quando as tropas do General Junot chegavam ao cais, os navios com os cerca de 15.000 tripulante dos navios - há divergência quanto ao número -  estavam a sumir na linha do horizonte, como na forma de um adeus.
Chegada ao Brasil
Os primeiros navios atracaram na Bahia em 18 de Janeiro de 1808. Não se sabe ao certo o motivo da passagem pela Bahia, já que a viagem como destino o Rio de Janeiro. Segundo historiadores, D. João pretendia fazer uma união nacional e firmar também a Bahia como um grande centro, o que já era. A verdade é que haviam pensamentos no sentido da separação da província. D. João acalmou o ânimo dos baianos. Foi lá também que escreveu a carta régia da abertura dos portos às nações amigas.
A chegada do destino final só aconteceu de fato em 8 de março de 1808, quando a família real desembarcara no Largo do Paço, atual Praça XV.
A família real desembarcava no Brasil fugida e quebrada. Dependia da Inglaterra e chegavam notícias da crueldade das tropas francesas com o povo português. Não bastasse os problemas financeiros, também havia o problema de alojar todos os membros do corpo burocrático do Estado português. As famosas siglas PR (ponha-se na rua) que na verdade significava Príncipe Regente. Na prática era realmente um pé na bunda dos moradores.Outro problema grande era a corrupção, que já naquele tempo causava escândalos.
Uma opinião
A família real veio ao Brasil fugida. Encontrou nos trópicos a riqueza de uma nação selvagem, analfabeta. Uma maioria negra, escrava, com a influência do grandes traficantes de escravos em tudo.
 Era o retrato de um Brasil pobre e selvagem, que em muito se parece com o de hoje, só que com as devidas modificações. Não há mais escravos nem traficantes, há agora políticos corruptos e empresários gananciosos e o povo, que só tem olhos para carnaval e futebol. Estudar história deve ser uma papel para todos, pois as mesmas estruturas de ontem sobrevivem hoje, só que em moldes diferentes. Mudar isso cabe a todos nós.